sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Micas 2, Pide 0: quanto valem os valores-notícia?

A propósito da publicação do livro Os Meus 35 Anos com Salazar de Maria da Conceição Rita & Joaquim Vieira, a RTP fez na altura do lançamento (30 de Outubro) uma reportagem desenvolvida no Telejornal. Esta semana, foi a vez da SIC repescar o assunto para o desenvolver numa grande reportagem no Jornal das Oito. Não tenho nada contra. Só prova a tendência jornalística para a personificação, para as histórias de interesse humano, para o valor-notícia “bizarro”: “afinal, o ditador tinha um coração de ouro…”
O meu problema é outro. No mesmo dia 30 de Outubro foi lançado outro livro, da historiadora Irene Pimentel. A obra, com cerca de 500 páginas, resulta de seis anos de trabalho e intitula-se A História da Pide. Tive conhecimento dela, por acaso, através de uma entrevista da Ana Sousa Dias no programa "Janela Aberta", no Rádio Clube. O que a investigação trouxe de novo (valor-notícia!) sobre a polícia política do antigo regime é material mais do que suficiente para várias reportagens televisivas. Mas ainda não vi nenhuma. Assisti apenas, boquiaberta, à forma como a RTP "deu a notícia" no próprio dia 30/10 — em 15 segundos, limitando-se a mostrar a capa do livro. Provavelmente porque este tema não tem rosto de avozinha, como o de “Micas”, que nos pode contar, por exemplo, que Salazar gostava de bacalhau assado com batata a murro…

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