Em entrevista com o jornal inglês The Guardian, Carl Bernstein considerou o recente escândalo de escutas do períodico News of the World um resultado directo do que ele apelida de "cultura idiótica" do jornalismo. O jornalista americano, conhecido por ter desmascarado, juntamente com o seu colega Bob Woodward, o caso Watergate enquanto escrevia para o Washington Post que, curiosamente, também envolvia o uso de escutas telefónicas.
O jornal inglês News of the World foi encerrado em Julho deste ano devido a vários escândalos com escutas telefónicas. O anúncio foi feito pelo presidente da News Corporation, James Murdoch, filho do magnata Rupert Murdoch. O acesso aos telemóveis foi conseguido com recurso a detectives privados. Muitas pessoas foram vítimas destas escutas, desde actores a políticos.
Bernstein explicou que os consumidores não se podem ilibar do que aconteceu já que é a sua "fome pelo jornalismo tablóide", ao invés das notícias reais, que dá origem a este tipo de situações. Ele afirma ainda que o jornalismo não se pode distanciar desta cultura de consumidores já que "fazemos parte da cultura popular, nós reflectimos o resto da cultura". Bernstein racionaliza a razão pela qual este tipo de jornalismo sensacionalista tem tanto sucesso, afirmando que "há mais pessoas que havia no passado que procuram pela informação que suporta aquilo em que acreditam e que não são, verdadeiramente, compreensivas e isso torna a receptividade do público para o jornalismo verdadeiro cada vez mais pequena".
Questionado sobre se pensava que o reino de Murdoch tinha acabado depois deste escândalo, Bernstein admitiu que "o poder dele está certamente diminuído, porque os seus colegas e aquelas pessoas que o temiam já não olham para ele da mesma maneira. Ao mesmo tempo, acho que seria um erro simplificar em demasia o que se passou, e afirmar que o seu “reino” acabou ou se ele é, ultimamente, ‘bom’ ou ‘mau’". No entanto, o escândalo parece não ter abalado a paixão que Bernstein tem pelo jornalismo. "Sim, não tinha problema em ir por uma carreira como jornalista. Tenho um filho na profissão, outro que é músico de rock-n-roll e essas seriam as carreiras que escolhia".
Daniel Ramos
Luís Cuco
Frederico Daniel
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