Os jornalistas António Antunes, Cândida Pinto, José Manuel Rosendo, Patrícia Fonseca e Paulo Moura reuniram-se a 10 de Abril, para uma conferência sobre cobertura jornalística de catástrofes, no Auditório Vítor de Sá, na Universidade Lusófona, organizada pela Licenciatura em Comunicação e Jornalismo. A conferência foi moderada por Carla Martins, que destacou o trabalho dos repórteres no Haiti e na Madeira.
A primeira intervenção foi feita por Patrícia Fonseca, repórter da revista Visão, que esteve no Haiti, referindo-se à impossibilidade de se fazer o planeamento essencial à preparação de uma reportagem, devido às dificuldades que se encontram no terreno como dormir, comer ou cobrir a catástrofe, o que perturba a ordem natural das coisas. Por outro lado, a gestão das emoções é um obstáculo com que o jornalista se depara, pois tem que lidar com a morte, tristeza e lágrimas.
Viver “um filme”A conferência continuou com a intervenção de António Antunes, repórter de imagem da RTP, que esteve também destacado no Haiti. O jornalista retomou a questão do planeamento e as dificuldades sentidas no local, em termos de deslocação. Sublinhou ainda o problema da humidade que dificulta o funcionamento dos materiais, e a segurança, que num caso como este, é pouca. “Parecia que estava num filme”, explicou.
Por sua vez, Cândida Pinto, jornalista da SIC, SIC Notícias e Expresso, destacou a solidariedade entre jornalistas no local, onde as trocas de impressões são importantes, mas tentando cada um manter o seu trabalho e a autonomia do meio de comunicação social que representa. Referiu também que o jornalista neste tipo de situação, tem que viver o dia-a-dia, porque pensa-se numa história e depois surgem outras mais fortes.
“O jornalismo nunca é inocente”Paulo Moura, jornalista do Público, esteve no Haiti e na Madeira. Contrariamente aos testemunhos anteriores, afirmou que os cenários de catástrofe são o “paraíso do jornalista”, no sentido em que o jornalista se depara com a morte, violência e o insólito, ingredientes necessários para se fazer bom jornalismo, pelos padrões ocidentais. Declarou-se também a favor de se mostrar a morte nas catástrofes e na guerra, dizendo que “o jornalismo nunca é inocente” e deve mostrar a realidade tal como ela é.
Por fim, José Manuel Rosendo, jornalista da Antena 1 que esteve na Madeira, explicou que hoje em dia colocar um repórter no local é considerado um luxo pelas direcções dos media, quando devia ser uma necessidade. Não ser sensacionalista na cobertura de uma catástrofe ou em qualquer trabalho que realize, defendeu, faz parte do capital do jornalista e o único garante do seu maior bem: a credibilidade. “Quando esta se perde, só muito dificilmente um jornalista a recupera”, garantiu. No final da intervenção, deixou um conselho aos futuros jornalistas presentes na sala. “Não tenham pressa. É muito importante saber dizer não. Mais vale subirem mais devagar, ganharem menos numa fase inicial da vossa carreira, mas dormirem com a consciência tranquila à noite”.
Tomás Tim-Tim