Eram quase 11 horas da noite. Dirigia-me para a ponte Vasco da Gama. Nas notícias das 11 oiço que houve um acidente na Ponte no sentido Norte/ Sul; a Lusoponte diz que o trânsito já circula normalmente; a polícia afirma que a ponte ainda está congestionada. Conclusão que oiço: há assim uma contradição entre a empresa gestora da ponte e a polícia.
Nunca compreendi tão bem a inutilidade e até a menos-valia da contradição enquanto notícia. A partir daquele momento iniciei uma condução ansiosa, irritada pelas horas que ainda ia passar a conduzir... E afinal a ponte estava limpa de trânsito.
Para que servem estas notícias da contradição que frequentemente fazem as nossas delícias de jornalistas? Na esmagadora maioria dos casos não servem para nada.
Há casos em que é impossível dar ao leitor a visão da realidade. Há muitos exemplos destes no jornalismo económico e até no político. Na economia existem contradições entre indicadores - muitas vezes porque as medidas usadas são diferentes como acontece no desemprego -, contradições nas análises; diferenças nas previsões... em que não é possível dizer ao leitor "esta é a realidade".
Mas o caso do trânsito não é seguramente um deles.
Porque não se esclarece o que pode ser esclarecido? Diria que em muitos casos porque não existem recursos suficientes para garantir uma das características da actividade jornalística: a mobilidade, ir aos sítios para verificar a informação.
O jornalismo de secretária ligado à rede do telefone ou da internet alimenta o jornalismo da contradição dando a ilusão que se está a fazer jornalismo.
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1 comentário:
Na verdade, em vez de notícia, o nome certo para este tipo de informação é "boato" ou "rumor". Não passa de um "diz-se que". Neste caso, "dizem que" já que havia dois protagonistas diferentes. Em suma, é a verdadeira não notícia. E é de evitar, a bem do jornalismo.
Obrigada pelo testemunho, Helena!
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