Eram quase 11 horas da noite. Dirigia-me para a ponte Vasco da Gama. Nas notícias das 11 oiço que houve um acidente na Ponte no sentido Norte/ Sul; a Lusoponte diz que o trânsito já circula normalmente; a polícia afirma que a ponte ainda está congestionada. Conclusão que oiço: há assim uma contradição entre a empresa gestora da ponte e a polícia.
Nunca compreendi tão bem a inutilidade e até a menos-valia da contradição enquanto notícia. A partir daquele momento iniciei uma condução ansiosa, irritada pelas horas que ainda ia passar a conduzir... E afinal a ponte estava limpa de trânsito.
Para que servem estas notícias da contradição que frequentemente fazem as nossas delícias de jornalistas? Na esmagadora maioria dos casos não servem para nada.
Há casos em que é impossível dar ao leitor a visão da realidade. Há muitos exemplos destes no jornalismo económico e até no político. Na economia existem contradições entre indicadores - muitas vezes porque as medidas usadas são diferentes como acontece no desemprego -, contradições nas análises; diferenças nas previsões... em que não é possível dizer ao leitor "esta é a realidade".
Mas o caso do trânsito não é seguramente um deles.
Porque não se esclarece o que pode ser esclarecido? Diria que em muitos casos porque não existem recursos suficientes para garantir uma das características da actividade jornalística: a mobilidade, ir aos sítios para verificar a informação.
O jornalismo de secretária ligado à rede do telefone ou da internet alimenta o jornalismo da contradição dando a ilusão que se está a fazer jornalismo.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Contra a “capa de jornal”
Já repararam que os media estão a transformar a 1ª página do jornal em capa? Podemos apontar o dedo com mais veemência à televisão e às revistas de imprensa diárias que fazem desfilar perante os telespectadores as ditas “capas” de jornais.
Tudo estaria bem se um jornal tivesse, de facto, capa. Mas não tem. A primeira página de um jornal tem uma construção gráfica e lógica completamente diferente da capa de uma revista. É verdade que, por vezes, certas primeiras páginas se assemelham a capas. E também é verdade que o segmento das revistas tem crescido tanto nas últimas décadas que obrigou os jornais a reinventarem-se.
Apesar disso, chamar capa a uma 1ª página é abusivo e errado. Compreendo que a palavra “capa” se enquadre melhor na brevidade jornalística que a dupla “primeira página”. Mas onde fica o rigor e a exactidão que deviam ser caros à linguagem dos jornalistas a partir do momento em que começam a tratar mal as “suas” próprias palavras?
Tudo estaria bem se um jornal tivesse, de facto, capa. Mas não tem. A primeira página de um jornal tem uma construção gráfica e lógica completamente diferente da capa de uma revista. É verdade que, por vezes, certas primeiras páginas se assemelham a capas. E também é verdade que o segmento das revistas tem crescido tanto nas últimas décadas que obrigou os jornais a reinventarem-se.
Apesar disso, chamar capa a uma 1ª página é abusivo e errado. Compreendo que a palavra “capa” se enquadre melhor na brevidade jornalística que a dupla “primeira página”. Mas onde fica o rigor e a exactidão que deviam ser caros à linguagem dos jornalistas a partir do momento em que começam a tratar mal as “suas” próprias palavras?
Etiquetas:
1ª página,
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rigor jornalístico
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